quinta-feira, junho 23, 2005

EZLN explica o motivo do Alerta Vermelho

Chiapas - Adital - O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN)
divulgou ontem dois novos comunicados sobre os motivos do Alerta
Vermelho
que fechou desde segunda-feira todas as comunidades zapatistas de
Chiapas.
Ontem todas os escritórios e repartições públicas permaneceram fechados
nas comunidades, com exceção dos postos de saúde localizados nos
"Caracoles" (unidades básicas de serviços públicos de cada comunidade).
Segundo comunicado assinado pelo sub-comandante Marcos, datado de 20 de
junho, no primeiro dia da medida, o Alerta Vermelho foi a forma
encontrada
para prevenir ataques das forças governamentais durante a reunião de
avaliação do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena-Comandância
General (CCRI-CG) que começou esta semana.

Subcomandante Marcos lembra na sua carta que, em fevereiro de 1995,
quando
o EZLN se encontrava fazendo uma reunião interna, houve um ataque de
parte
das forças governamentais. Ressalta que a traição foi realizada por
Ernesto Zedillo Ponce de Leon, que era o titular do executivo federal e
atualmente é empregado de empresas transnacionais, e Esteban Moctezuma
Barragán, que era secretario de governo e hoje é empregado da Salinas
Pliego. O chefe do EZLN afirma que as tropas insurgentes foram
consultadas
e todos os comandantes/as regionais e locais responsáveis e suas bases
de
apoio concordaram com a decisão preventiva.



Para garantir a segurança, alerta que têm as condições necessárias para
sobreviver a um ataque ou ação do inimigo, no caso o governo, que tente
acabar com a atual direção ou aniquilar as comunidades. Informam ainda
que
as medidas de responsabilidade já foram claramente estabelecidas, assim
como as ações e medidas a serem tomadas no caso de serem agredidos
pelas
forças do governo e seus paramilitares. A direção zapatista comunica
que
estará em condições de continuar dirigindo a luta zapatista, mesmo que
parte ou toda a direção atualmente conhecida seja presa, assassinada ou
desaparecida forçadamente



O zapatista antecipa que, nesta reunião, a direção do EZLN está fazendo
um
reconhecimento do trabalho realizado nos últimos 12 anos de
resistência,
inclusive com "sacrifício, disposição e heroísmo". E o Comitê do EZLN
irá
apresentar um balanço de como está a organização e uma análise da
situação
nacional atual. Segundo os informes, desde a metade do ano de 2002, o
EZLN
entrou em um processo de reorganização de sua estrutura
político-militar,
que já está concluída.



Ressalta, portanto, que será proposto um novo passo na luta: "um passo
que
implica, entre outras coisas, arriscar-se a perder o muito ou o pouco
que
foi conquistado, e que aumente a perseguição e as hostilidades contra
as
comunidades zapatistas". Para tanto, afirma que as bases de apoio, que
compõem a maioria do grupo, serão escutadas com base na palavra
empenhada
em janeiro de 1994, sobre se continuam ou não no ELZN diante do novo
passo
a ser proposto. O passo, porém, não foi divulgado, embora o
subcomandante
garanta que o resultado da reunião interna será informado à opinião
publica nacional e internacional.



Analistas



Desde o anúncio do Alerta Vermelho em Chiapas, são muitas as
especulações
sobre os motivos. Alguns dizem que a nova forma de luta zapatista
anunciada pelo subcomandante Marcos, como um novo passo, poderia
incluir a
saída dos comandantes do território rebelde, convocar a uma mobilização
nacional com a esquerda e ganhar maiores apoios nacionais e
internacionais, o que fortaleceria como uma base política forte para
negociações com o novo governo, a ser escolhido daqui a um ano.



Acreditam que não pode permanecer na mobilização armada já que, com
isso,
a maior parte da sociedade estaria contra ele. O mais viável, nessa
linha,
seriam atividades mais midiáticas, tal como esse Alerta Vermelho e a
consulta nas bases.



Por sua vez, em um comunicado difundido na terça-feira, o Centro de
Direitos Humanos Fray Bartolomé de las Casas mostra-se preocupado com o
agravamento do conflito, pois considerou "tendencioso e perigoso" o
comunicado emitido na véspera do Alerta pela Secretaria de Defesa
Nacional
(Sedena). Diante da declaração da Sedena, sobre haver destruído
plantações
de maconha em três municípios situados dentro da área de influência do
EZLN, que teve a intenção de assinalar a possibilidade de que haja
presença de bases de apoio zapatistas ali, porém seria minoritária e
sua
influência seria mínima. "Nos preocupa que funcionários como Luis
Ernesto
Derbez, Secretário de Relações Exteriores e alguns meios de comunicação
tentem relacionar o narcotráfico ao conflito em Chiapas, uma vez que
isso
o distorce; mais ainda se busca com isso justificar uma escalada de
violência", indicou.



A correlação de forças políticas e sociais na zona responde a outros
atores, que têm maior presença e relevância, agregou a instituição.
Também
denunciou o reposicionamento tático das forças militares no território
chiapaneco, como parte de "uma campanha de guerra vigente; isto é, o
exército não se retira, se reativa". Na nota emitida, o Centro Fray
Bartolomé de las Casas rechaçou a reativação da hostilidade
paramilitar,
particularmente da agrupação Paz e Justicia (Desarrollo Paz y Justicia,
organização indígena campesina priísta da zona Norte, fundada em 1995,
acusada de funcionar como um grupo paramilitar) que, na semana passada,
propiciou o deslocamento de 15 famílias de uma comunidade no município
de
Sabanilla. "Há dois meses foram registradas movimentações do exército
mexicano, o que constitui o maior movimento militar desde a saída das
sete
posições solicitadas pelo EZLN, em 2001".

"Temos informação a respeito de reuniões cada vez mais freqüentes de
Paz e
Justicia na zona norte do Estado", agregou. Em um artigo publicado na
segunda-feira, o subcomandante insurgente Marcos arremeteu contra o que
chamou a "geometria política no México de cima", onde -disse-, reinam
hoje
a indecência, a desfaçatez, o cinismo e a pouca vergonha. O líder do
EZLN
considerou cegado o momento de "começar a lutar para que todos esses
que,
lá de cima, desprezam a história e nos desprezam prestem contas, para
que
paguem".



O Centro Fray Bartolomé de las Casas também chama atenção para a
reativação do Exército Mexicano coincidir com o congelamento das contas
bancárias de Enlace Civil e com a filtração aos meios de comunicação
dos
funcionários do BBV- Bancomer de uma possível "lavagem de dinheiro" nas
contas da organização. No momento, a página web da Frente Zapatista
está
fora do ar e, de acordo com os jornais locais, em San Cristóbal há
telefones "que estão sem funcionar". Diante dos fatos descritos, este
Centro de Direitos Humanos exige ao presidente Fox que cesse de
imediato o
movimento militar do Exército mexicano e retome as vias políticas, e
utilize os canais de informação pública e transparente para explicar a
investida do Exército. Pede ainda às partes em conflito o respeito
absoluto ao Direito Internacional Humanitário, particularmente a
proteção
da vida e da integridade física da população civil. Aos meios de
comunicação pedem que continuem a acompanhar de perto os acontecimentos
em
Chiapas nos próximos dias e evitem a especulação, atendo-se à
informação
vinda de fontes diretas. À sociedade civil nacional e internacional,
pede
que organizem iniciativas que apóiem a distensão e impeçam o avanço de
uma
escalada de violência.

URL::
http://www.adital.org.br/site/noticias/17325.asp?lang=PT&cod=17325

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